Endoscopia

Eu a conheci numa endoscopia. Quer dizer, eu estava no consultório do gastro, quando uma morena bonita saiu da sala do médico meio grogue e tropeçou no meu pé.
Eu a ajudei a se deita no sofá da sala de espera. -Onde ele está…O safado”, ela balbuciou.
-Quem?
-Ele prometeu que …vinha aqui. Me pegar, mas…
A atendente perguntou se alguém vinha buscá-la.
-Dona Helena, a senhora não pode sair assim. Acabou de fazer uma endoscopia. Tomou anestesia. Eu vou falar com o Doutor Castro.
Ela não escutou. Dormia de roncar. Percebi que ninguém viria busca-la.
Eu era o próximo a fazer a endoscopia. Já tinham me chamado para o preparo.
Ela foi a desculpa que eu precisava.
-Pode deixar que eu ponho a moça num táxi e volto logo, eu disse a atendente.
-Não, não, perai. Está na sua hora. O Doutor Castro…
Mas eu já estava com a moça no elevador. Ela exalava um perfume gostoso, caro, e estava vestida em um vestido azul escuro, que deixava à mostra suas pernas, botas marrom e uma echarpe super charmosa, quadriculada cinza e bordô.
Era inverno e o dia estava bem frio. Amparada em mim, Helena parecia uma menina acuada. Deixei-a sentada em um banco e pedi um táxi à recepcionista do prédio.
Como parecia estar acordando, perguntei onde ela morava.
-Na Pamplona. Uma casa de vila, no 765. Casa 3.
Sentamos os dois no banco traseiro e ela encostou a cabeça no meu ombro. Seus cabelos longos, morenos, roçaram no meu pescoço e me deram um arrepio. Ela continuava grogue. E carente.
Durante o trajeto, ninguém conversou. Mas aquele ombro encostado ao meu e o perfume levemente cítrico dela me deu uma paz gostosa e me deixou excitado.
Quando chegamos, ela acordou, mas ainda sonolenta.
-Entra, ela disse.
Entrei.
-Fica à vontade. Tá frio. Tem um vinho bom no barzinho, um chianti. Abra para nós. Vou ao banheiro e já volto.
Ela não bebeu. Sentei no sofá. Ela tinha um toca-discos daqueles antigos. Pediu para que eu escolhesse um LP. Eu achei um clássico do Miles Davis. Acertei o disco na agulha. Em cima da mesa da sala estavam duas cartas. Não resisti. Uma estava endereçada à Helena Richelli Castro; a outra ao Doutor Ernesto Castro. O gastro.
Quando me virei, Helena estava estirada nua no sofá, linda, com os cabelos para trás, roncando.

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